BAGUNCINHA
Cadê aqueles sonhos que até ontem estavam aqui? Não sei. Cadê aquele vinil com as músicas que eu tanto adorava porque traziam a tona aquela antiga lembrança? Não sei. Cadê meus versos rimados, a ampulheta que ficava na mesinha da sala, as minhas certezas que estavam emolduradas naquele quadro no corredor? Não sei, não sei, não sei. O que aconteceu comigo? Você.
Você
é a causa da minha bagunça. Desde que você apareceu eu não sei onde foi
parar quem eu costumava ser nem aquela caixinha onde eu conservava
passados. Os sonhos estão espalhados pela cama, a areia da ampulheta que
cronometrava o tempo errado está espalhada pelo chão e minhas certezas
se jogam pela janela enquanto outras entram e se acomodam no sofá da
sala. Tá tudo de pernas pro ar e de olhar virado na tua direção. Você me
bagunça e eu não sei se quero arrumação. Você me bagunça feito música
que arrepia, feito vento que despenteia, feito amor que arromba a porta e
muda tudo de lugar.
Seu sorriso
me assalta, sua falta me assola, seu olhar assina o atestado da minha
loucura. Eu sei que quando você me olha assim você não entende de onde
eu venho nem pra onde eu vou. Mas isso não importa porque eu também não
sei, você tumultuou tudo em mim. Vou escrever e deixar na porta da
geladeira: "você me bagunça, mas de um jeito bom". Não precisa fazer
esforço pra me colocar em ordem novamente, é nessa bagunça que eu me
encontro. Não importa o que eu era, importa o que a gente pode ser. É
aqui nessa bagunça que eu sei onde está o giz de cera que vamos usar pra
desenharmos nosso caminho naquela parede em branco, onde estão seus
beijos, onde estão nossos amuletos. Sei que parece loucura, mas é só
amor. Sei que parece bagunça, mas é só você redecorando o que eu sou. Tá
tudo bem, tô reconsiderando o mundo daqui de dentro do teu abraço. É
que ele fica bem melhor assim. A vida fica bem melhor assim.
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