VENHO DE UM REINO NÃO TÃO DISTANTE
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foto:valéria mattus |
No entanto, sou uma mulher preta de periferia, estou entre aquelas que normalmente nunca foram visualizadas e muito menos tratadas com as pompas de uma “realeza”, a nós sempre ficou o título de sermos invisíveis, a árvore do cenário.
Bom, é por essas e por outras que não canso de dizer que sou sim uma Princesa, e sou daquelas que, acorda descabelada, tenho um pijamas que perderam o elástico, uso meias coloridas e furadas. Não sou uma boneca, mas sou uma princesa. Quando durmo mal tenho olheiras. Sempre sujo a toalha da cozinha, sempre deixo o leite derramar, sou desastrada. Sou bagunceira. Não sei rir baixo, tão pouco falar. Adoro andar de meia pela casa, ou então de pé no chão mesmo. Falando em chão, adoro sentar no chão.
Sim, sou uma princesa. Falo gesticulando, meu choro é verdadeiro, fico com nariz entupido, olhos vermelhos, fanha, as lágrimas saltam. Não sou o tipo de princesa que chora com delicadeza e ainda pega lencinho. Eu limpo o nariz na manga da blusa. De vez em quando eu tenho espinha. Me sujo comendo sorvete. (...)
Não respiro pra falar. Me agito pra falar. Me embolo pra falar. Me embolo pra tentar explicar o que estou sentindo. Me embolo no meio dos sentimentos todos. Tenho cabelos de princesa, não é liso, não é cacheado, não é ondulado, ele é crespãooo. Não dá pra fazer tranças longas e jogar pela janela, mas dá pra fazer um blackzão e sair tirando onda com a galera!!! Minha coroa não foi feita de ouro, foi feita de pano, assim como as pequeninas abayomis no trajeto do navio negreiro.

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